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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Como surgiu O Livro Proibido

Em 2003, quando levei O Homem Que Falava com Deus ao editor Pedro Paulo de Senna Madureira, ele disse que ninguém acreditava em livros de autores brasileiros sobre algo que não fosse o Brasil.

- Mas vou publicar mesmo assim - disse ele. - Porque é um livro seu.

Um mês após o lançamento, quando eu ainda fazia a noite de autógrafos, a primeira edição de O Homem que Falava com Deus - surpresa... - já estava esgotada.

Penso nesse episódio quase anedótico agora que lanço, tantos anos depois, um segundo livro que ronda o esoterismo: O Livro Proibido, série de episódios envolvendo um sábio proibido de falar e enterrado nas dunas da história.

Os tempos mudaram. Dessa vez, escolhi lançar o livro somente em versão digital, pelo Kindle da Amazon, como experimento. O sistema da Amazon permite vender o livro em qualquer lugar do mundo. Inclusive na forma impressa, pelo sistema on demand. Infelizmente, o Brasil é um dos poucos lugares onde isso ainda não funciona.

Velhas histórias ganham contemporaneidade, não apenas pela tecnologia, como pelos temas da obra, que me parecem tão atuais, num momento em que procuramos justamente uma luz em meio a um grandes caos político, religioso e cultural, potencializado pelas novas tecnologias.

Continuo gostando de temas esotéricos. Me aproximei deles ao ler, ainda adolescente, ao Sidarta de Herman Hesse, obra que influenciou não somente o que escrevo como o meu pensamento. Gosto da filosofia e da arte orientais. E de sua forma de encarar a natureza e a espiritualidade como uma coisa só.

Gosto do deserto do Sahara, onde estive três vezes, uma delas apenas para fazer a pesquisa para O Homem que Falava com Deus. Em especial, uma parte desse deserto, que chamam de El Rayan, a noroeste do Cairo.

Lá, as dunas são formadas por conchas, porque um dia toda aquela imensidão foi um fundo de mar. Tirei no El Rayan a foto que agora ilustra a capa de O Livro Proibido. Aquele lugar tem, de fato, algo de mágico.

A esses ingredientes, juntei também minha admiração por Borges, para quem histórias antigas serviam como fonte para uma erudição por vezes inventada, produto da mais pura e fina fantasia.

Nos labirintos de Borges, feitos de portas falsas, que parecem tão verdadeiras, ficção e realidade se confundem.

São estes mistérios que estimulam a mente e nos ajudam a encontrar respostas na vida real. Assim como O Homem que Falava com Deus, O Livro Proibido é um exercício de reflexão, tanto quanto um thriller ambientado num tempo milenar, e um jogo, um desafio, ou provocação.

Para comprar:
https://www.amazon.com.br/dp/B07W5Y2KB9/ref=rdr_kindle_ext_tmb

terça-feira, 14 de julho de 2015

Kindl Direct publishing: vale a pena?

Aproveitei o concurso de contos da Amazon para conhecer melhor o Kindle Direct Publishing, o sistema de autopublicação da Amazon, que permite a qualquer pessoa publicar um texto na maior loja de livros virtuais do mundo, agora em funcionamento no Brasil. Usei para isso um conto de um futuro livro policial que pretendo lançar, com o título de O Profissional. Foi uma experiência muito interessante – especialmente para ajudar a entender como será possível vender livros no futuro próximo.
http://www.amazon.com/O-profissional-Portuguese-Thales-Guaracy-ebook/dp/B010QZISGG/ref=sr_1_fkmr0_1?ie=UTF8&qid=1436895143&sr=8-1-fkmr0&keywords=o+profisisonal+thales+guaracy
O prêmio, em si, não é lá essas coisas: você pode ganhar um Kindle e ver seu texto publicado no Jornal O Globo. O concurso claramente tem o propósito de dar algum estímulo ao maior número possível de pessoas para entrar no sistema. O regulamento favorece os não profissionais. O tamanho do texto é limitado a 6.000 caracteres com espaço – algo muito pequeno, mesmo para um conto. Mas o KDP realiza a mágica da Amazon – permite a qualquer um entrar no terreno antes habitado somente pelos escritores profissionais.
O teste do sistema apresenta algumas verdades e mentiras. A mentira é que autor fica com 70% do dinheiro da venda. Essa margem de direitos autorais vale apenas em vendas em países como a Rússia e o Japão. Onde interessa, especialmente o Brasil e os Estados Unidos, o autor fica com 30% do preço final do livro. Na editora Copacabana, pagamos ao autor 25% do preço de capa. Porém, o livro é publicado em todas as plataformas, e não somente na Amazon.
Essa é a maior limitação do KDP. Embora a Amazon seja a maior plataforma de venda de livros digitais, não é a única. Pela minha experiência como editor digital, o Google hoje vem em segundo lugar, graças aos mecanismos de busca, que jogam leitores também para a compra do livro. Em terceiro, está a Saraiva. A Apple Store, que foi tão bem com a música, se mostra menos eficaz quando se trata de livros. Fica em quarto lugar.
A vantagem do KDP é que é muito simples. Qualquer um pode fazer uma capa, preencher os metadados, subir o texto e ter o livro no ar em até 48 horas. Não há regra para o tamanho da obra: em tese, você pode publicar uma capa para um simples haikai. O cenário que se coloca é que hoje qualquer um pode publicar o “seu livro”. Isso tende a promover uma grande reviravolta do mercado.
A facilidade de autopublicação permite que uma geração de jovens autores, que sabem se mexer melhor no meio virtual que os velhos medalhões do meio impresso, ganhem espaço pelo simples fato de ocupá-lo. O padrão de qualidade se tornará menos exigente. Como o livro digital é produzido mais rápido e consumido também mais rápido, é certo que o mercado do livro digital não apresentará obras da mesma qualidade que o do livro impresso, produto no qual se trabalhava muito mais até estar em condições de publicação.
As editoras se tornarão certamente menos importantes. Hoje acredita-se que a queda na venda de livros impressos não se deve ao livro digital, já que ela acontece sem que as vendas digitais cresçam substancialmente. Porém, é evidente que o mercado do livro impresso tende a encolher ainda mais e cada vez mais rapidamente. A lógica indica que no futuro será muito mais fácil comprar um livro digital a preço baixo que aguardar um livro impresso a preço bem mais alto. E as editoras convencionais têm a mesma dificuldade de se tornarem “virtuais” quanto outras empresas convencionais que hoje sofrem a concorrência da internet.
 As editoras terão dificuldade de sustentar o seu catálogo num mundo em que autores podem ganhar mais se virando sozinhos. E lançando produtos a preços mais competitivos do que os do velho mundo. Por enquanto, elas têm procurado se agrupar, para engrossar seu catálogo e manter a massa de vendas, capaz de compensar a queda geral do mercado. Porém, esse jogo defensivo tende a ser um buraco negro, com uma editora engolindo a outra até que no final pouco restará para a autofagia.
Para os autores, o futuro não promete ser mais risonho. É muito difícil ser notado na Amazon, embora a própria Amazon coloque como atrativo sua capacidade de cruzar autores, títulos e informações como uma ferramenta poderosa de venda. A infinidade de títulos faz com que o livro digital mergulhe numa verdadeira bacia das almas. O leitor pode escolher o que quiser, mas já não será tão fácil saber o que é bom, nem fazer grandes sucessos. Como em tudo, o que determinará a venda é a capacidade do autor de construir uma rede pessoal de alcance global.
Em definitivo, a chave para vender livros, como a maioria dos produtos, já não está mais nos meios convencionais de marketing, como resenhas em revistas e jornais. Nem no espaço real das livrarias, onde se tomava conhecimento dos lançamentos por aquilo que se encontrava nas prateleiras. A disputa pela atenção do leitor e a venda se trava no terreno virtual., E é o que abastece os cofres bilionários de empresas como o Google e o Facebook. Autores contemporâneos tendem a desaparecer se não investirem nesse caminho. E autores clássicos tendem a integrar as prateleiras a custo zero, isto é, sem nenhum ganho para um editor.
Com o selo Copacabana (www.editoracopacabana.com.br), tenho procurado investir numa empresa que está entre a autopublicação e uma editora convencional. Para o autor, o ganho é semelhante ao da autopublicação. Com a vantagem de que o livro pode ser publicado em todas as plataformas, inclusive a própria Amazon. Ainda assim, a venda dependerá cada vez menos da editora e mais do próprio autor. A editora será cada vez mais uma parceira, dando acesso ao mercado, para que o próprio autor possa se vender. Por isso, a editora não atua mais como um filtro para a entrada no mercado, e sim como um facilitador.

sábado, 30 de maio de 2009

O futuro do jornal e do livro


O que muda - e o que vai melhorar


Os catastrofistas gostam de achar que a decadência dos jornais pelo mundo será o fim da imprensa. Assim como muitos apontam que a era digital nunca substituirá o livro. Em geral, os catastrofistas acertam apenas quanto a si mesmos. É preciso pensar o que a era digital pode trazer de bom para a imprensa e o livro. Ela pode.


Daqui a alguns anos, o jornal em papel certamente será lembrado como um anacronismo igual ao que é hoje a velha máquina de escrever. O custo de esperar a árvore crescer para fazer o papel, industrializá-lo, imprimi-lo e distribui-lo é incomparavelmente maior que o do meio eletrônico. É a única razão pela qual o jornal desaparecerá e isso não está longe, já que a internet tem agora um alcance suficiente para cobrir os leitores que antes só tinham acesso à imprensa da maneira convencional, em bancas ou assinaturas.


Quando quebraram as mãos do jornalista Antonio Maria por conta do que escrevia, ele disse: “Tolos, pensam que a gente escreve com as mãos”. O mesmo se pode dizer da imprensa. São tolos os que pensam que a imprensa se faz com o papel. Não importa o meio onde ela se propaga, mas os seus princípios: informação com credibilidade, facilidade de acesso, defesa da liberdade de expressão e de opinião. A internet traz também vantagens nessa área. Permite atualização constante e consulta permanente ao que já foi publicado.

Se os veículos de imprensa hoje estão em dificuldades, é porque estão em sua fase de transição – enquanto entram na era digital, ainda têm de carregar o velho negócio em papel. Em vez de investir no novo, precisam empregar esforços em sustentar o decadente. É difícil a decisão de simplesmente acabar com o jornal impresso e ficar só na internet. A sensação é de diluição no mar virtual. Porém, quem tem um serviço de qualidade, e uma marca de prestígio, tem mais chances de consolidação no mercado de informação virtual.

O mesmo deve acontecer com o livro. Já tive a oportunidade de manusear o Kindle, o livro eletrônico da Amazon, o mais conhecido do gênero. Ele ainda é caro (cerca de 700 dólares nos Estados Unidos), ainda não há uma plataforma para produzi-lo com obras em português, e não sabemos se as pessoas comprarão um aparelho exclusivamente para ler livros ou jornais. Ele tem, porém, uma série de vantagens incomparáveis sobre o livro convencional.

Para começar, ao contrário do que dizem os preconceituosos, ele é mais amigável . Como um palmtop um pouco maior, pode ser segurado com uma única mão, ao contrário do livro, que a gente tem de abrir – e por vezes administrar as duas partes, que tendem a fechar-se novamente. É possível fazer marcações no texto. E, sobretudo, ali cabe uma biblioteca inteira. Assim, você pode ir para a praia levando não apenas o livro da vez, como toda sua biblioteca. E ler ainda o jornal do dia.

Assim como no caso dos jornais, o livro eletrônico elimina enormes custos de produção e armazenagem de volumes impressos. Mesmo o custo do aparelho é relativo: basta pensar que sai muito mais barato do que comprar uma biblioteca de 3.000 livros, sua capacidade de instalação. Com a erradicação dos custos de papel, impressão e estocagem, o livro novo pode ser barateado, e muito. Isso com certeza difundirá a leitura ainda mais, já que o principal impedimento da expansão do mercado, sobretudo no Brasil, é o preço.

Claro, há dúvidas. Uma ameaça é a pirataria. Se as editoras e autores forem atropelados pelos piratas, com a distribuição gratuita das obras, não haverá muito mais gente disposta a escrever, produzir e divulgar livros. Os direitos autorais não podem ser reduzidos, mesmo em face da queda no preço unitário do livro, sob a mesma pena de eliminar o seu produtor. Isso já tem acontecido na música com a troca do CD pelo Ipod.

Pode ser que a literatura, assim como a música, deixem de ser atividades profissionais, para se tornarem novamente produto do diletantismo de pessoas que fazem outras coisas na vida e escrevem, compõem ou tocam como uma atividade secundária, por prazer ou necessidade pessoal. Se isso acontecer, teríamos um grande retrocesso. Cabe aos cérebros digitais estudar como evitar melhor a pirataria e o desmanche de uma indústria fundamental para a educação e o entretenimento.


Não importa o veículo onde se coloque a imprensa e a arte; ambas são uma necessidade da sociedade e do indivíduo; por isso, sempre existirão. A profissionalização de ambas é que garante sua qualidade e por isso deve ser respeitada e incentivada, em vez de destruída. A boa imprensa e o bom livro são indispensáveis e parte da vida contemporânea, contraponto do barbarismo das civilizações antigas que perseguiam iconoclastas e queimavam livros para manter o povo na obscuridade.


A era digital tem, acima de tudo, essa virtude: o acesso a tudo, por qualquer um, em qualquer tempo. É um enorme passo para um futuro melhor.