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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Nordeste já foi o melhor do Brasil


Em fevereiro, quando sai pela editora Planeta meu próximo livro, A Conquista do Brasil, será possível fazer uma interessante comparação entre o Brasil de hoje e o Brasil dos seus primórdios, com o qual guardamos um grande parentesco. A grande diferença, porém, é que o Nordeste era, no começo da colonização, o pedaço mais avançado, vanguardista e rico do país. Graças ao seu solo, um administrador sortudo e eficiente e uma história de amor.

Diferente de outros donatários, Duarte Coelho veio ao Brasil com a família e outros nobres para se estabelecer, em vez de apenas piratear riquezas e voltar a Portugal com o butim. Trouxe especialistas em açúcar da ilha da Madeira e começou os primeiros engenhos como outros capitães: caçando índios para trabalhar como escravos. Na guerra, contudo, seu cunhado foi feito prisioneiro pelos índios locais, casou-se com a filha do cacique Arco Verde e dessa história de amor nasceu uma aliança que impediu a escravização dos índios dali em diante. Esse acidente exigiu uma solução heterodoxa, que se revelaria mais eficiente e lucrativa. Duarte Coelho pediu dinheiro emprestado a banqueiros judeus e, com esse investimento de risco, passou a importar escravos negros de Angola e da Guiné.

Como resultado, por longo tempo Pernambuco foi o epicentro da região mais próspera do país. Em A Conquista do Brasil, mostra-se como as coisas foram se invertendo com o passar do tempo: a região mais atrasada, a Sudeste, acabaria, por força dos tempos, e dos homens, se transformando no carro-chefe da economia brasileira. O Nordeste açucareiro e escravagista, pelas mesmas qualidades que o fizeram rico, o mantiveram em atraso depois que os fundamentos da economia colonial desapareceram.

Essa é uma herança que ainda não conseguimos superar. O desequilíbrio entre o Sudeste-Sul e o Nordeste se manifestou nas urnas e é ainda explorado politicamente pelos governantes. Embora o Nordeste tenha riquezas importantes e uma gente admirável, a indústria ainda não consegue se radicar lá plenamente e como resultado a região produz indicadores sociais alarmantes.

Como mostrou a eleição em 2014, levantar o Nordeste ainda é um grande desafio para a nação brasileira. Há um inaceitável abismo social nas grandes metrópoles do centro-sul, mas lá está um problema ainda maior. De resolvê-lo depende também o progresso das regiões mais ricas, para que o país possa ter um crescimento mais uniforme e ordenado.

Enquanto for uma concentração de pobreza, o Nordeste sempre será amplo território de exploração por políticos ao estilo coronelista e o populismo em todas as esferas de governo. São séculos de cultura enraizada e de empobrecimento econômico e social, uma tarefa que pede um hercúleo esforço civilizatório. Essa tarefa não é de um partido, e sim de todos os partidos, porque é da sociedade brasileira.