sábado, 28 de março de 2015

Meus amigos loucos

É bom ter amigos loucos; tenho vários. Não apenas porque me identifico com eles; eles me fazem pensar, abrem perspectivas novas, mesmo com coisas que parecem insanas.

Vejo uma correlação intensa entre a mente criativa e a vida desregrada, ou louca. Meus amigos mais loucos têm dificuldade de manter uma vida "normal". Não são de internar no hospício, pelo menos por enquanto, mas vivem em apuros.

Um deles é um amigo de colégio, a quem eu não via há muitos anos. Lembro de tê-lo visto pela última vez na estação do metrô, trinta anos atrás; usava uma roupa toda branca, como um pai de santo, dizia ter encontrado a "luz", não matar mais baratas e que tinha seguidores perto do campus onde tinha ido estudar Física.

Desapareceu por três décadas e muitos de nós, colegas de classe, eu inclusive, o julgávamos morto, de tal forma estava desaparecido. Reapareceu uns três meses atrás, bem vivo, dono de empresas em vários lugares, morando em outro estado, com quatro filhos de diferentes casamentos e uma biografia digna de filme.

Outro dia ele, ele me mandou do nada uma pergunta pelo what'sapp: você conhece o paradoxo de Fermi? Sim. O paradoxo de Fermi, formulado pelo grande cientista e pensador Enrico Fermi, é a estranheza de não haver vida perto da Terra, já que os mecanismos de criação da natureza são os mesmos em todo lugar.

Meu amigo faz a gente pensar. A meu ver, o paradoxo de Fermi não existe, ou melhor, não é um paradoxo; certamente há vida em outros lugares do universo, criados da mesma forma, talvez em condições semelhantes às da Terra. 

Recentemente, cientistas alemães disseram ter reproduzido em laboratório a "criação" da matéria orgânica, uma troca de calor em nível molecular que gera uma célula auto-reproduzível, a que chamamos de vida. O que está errado, para mim, é a noção de "perto". No universo infinito, uma galáxia distante pode ser "perto". Fermi não considerou a relatividade do espaço.

Isso me deu ideias para um romance, que já vinha acalentando desde que vi Lucy, o filme com Scarlett Johanson, a mulher que se torna um computador, como método de autopreservação da vida: o filme lembra que inteligência não é o que produz a mente, nem é mesmo necessariamente orgânica: o homem é um computador vivo, e poderia ser eterno se pudesse transportar sua mente para a natureza ou a máquina.

Esse talvez seja o sentido religioso da eternidade, como uma volta à natureza, uma forma maior de inteligência, da qual fazemos parte; a vida teria, portanto, um sentido mais amplo, parte de um conjunto que faz sentido; haveria uma "inteligência" da natureza, ou do próprio universo, a que podemos chamar de Deus.

Pensar diferente é ser um pouco louco? A loucura, nesse caso, é um contribuinte importante para a criação e a própria ciência. Pensar como já se pensou é a melhor maneira de chegar sempre ao mesmo lugar. Se queremos avançar, é bom termos um pouco de loucura, ao menos uma pitada a cada dia. Mesmo quando não dá resultado, é um pouco de saúde, faz a vida melhor.

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