terça-feira, 4 de maio de 2010

Por trás do artista


O cabide é uma bruxa, nas paredes passam imagens fantasmagóricas, o silêncio dá pesadelos. “Eu só tinha três anos de idade”, diz Maria Fernanda Cândido. “E me lembro muito bem.” Mais que lembrar, ela sente: “Medo.” Os pais deixavam a porta do quarto fechada. “E eu não podia fazer nada.” Desse tempo é que vem a necessidade profunda de compreensão e de expressão, comum ao escritor, o artista plástico, o ator?


Maria Fernanda não sabe. Nem todos são assim. “Meu filho Tomás, por exemplo, pede para deixar a porta fechada.” Mãe de dois filhos pequenos (Tomás tem quatro anos, Nicolas 1 e meio), ela só sabe da importância de pensar nos sentimentos, não apenas das crianças, como de todos. E que, do medo, vem a coragem e a força – e que força.


Depois de dois meses de filmagens, Maria Fernanda Cândido terminou sua participação em Aparecida, filme de Tizuka Yamasaki que deve chegar aos cinemas em novembro. O tema que a atraiu para fazer o papel de uma executiva enfiada numa história de fé foi o da independência.


Como toda mãe com filhos pequenos, e que aos poucos volta mais e mais ao trabalho, Maria Fernanda parece buscar um caminho para também poder ser novamente, apenas, Maria Fernanda Cândido. Usa, para isso, a profissão: ao entender os outros, pela representação de um papel, entende mais a si mesma. Interessa-se, acima de tudo, pela “humanidade” - assim mesmo, com H minúsculo, no sentido da natureza humana. “Aceitar o diferente, sem preconceito, ir por trás (da aparência).”


Existe algo em comum entre os artistas: não o meio de expressão, mas a compulsão invisível, que vem de um passado distante, raiz de toda predestinação.

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