quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A rebeldia fundamental


Por que quebrar as regras faz bem à saúde


A rebeldia é um comportamento intolerado, talvez porque a maioria das pessoas não goste do imprevisto, como se sair do padrão fosse primeiro má educação e, de forma mais radical, um perigo para a sociedade. Quebrar regras parece ameaçador para muita gente que aparentemente não gosta de liberdade, ao menos da liberdade dos outros.


Apesar disso, a rebeldia está em todos nós – mesmo dentro do mais intransigente dos seres humanos, razão pela qual em geral os intransigentes se tornam hipócritas. Podemos agir socialmente, dentro das regras, mas precisamos desse recurso essencial ao menos de vez em quando para não enlouquecer. Precisamos, sim, quebrar as regras, como a casca do ovo – e respirar, e crescer. Mesmo aqueles que não o admitem. A rebeldia faz bem à saúde. Quem nunca sai dos trilhos vai fenecendo até sumir.


Em todos nós e em toda parte, a rebeldia se manifesta das mais diferentes formas. Está no bebê que cospe a chupeta, e também no que chora, pedindo por ela. Pode ser vista nas pequenas coisas do dia a dia e nas grandes também. É o fuindamento tanto do comportamento di[ario do adolescente quanto das revoluções.


Seja na atitude do menino que se nega a arrumar a cama ou na queda da Bastilha, a rebeldia é por excelência uma atitude individual, que nasce no íntimo do ser humano. Parente do inconformismo, ela é o motor do mundo, pois sem a vontade de quebrar as regras, inventar coisas novas, pensar diferente, fazer de outro modo, ainda usaríamos peles de urso e os homens arrastariam as mulheres pelo cabelo dentro de cavernas.


A rebeldia é necessária, para que as grandes transformações tomem forma e passem do indivíduo para história, seja como resultado de uma manifestação individual ou catarse coletiva.
O ser humano sequioso de mudança, questionador, inquieto, é o motor do mundo. Por isso a classe dos epnsadores, apesar de sua aparente inutilidade, é tão importante: todo progresso começa pelas idéias, ou pela mobilização dos sentimentos que nos levam a mudar. É verdade que há muitos rebeldes que apenas causam confusão, sem contribuírem para progresso algum, mas não há como impedir esse mal, sob pena de coibirmos junto o bem que a liberdade mais rebelede pode trazer.


O homem sequioso de mudança, que lhe dá a própria sensação da vida, a esperança de um destino melhor, ainda que transitória, é um mártir de si mesmo. Vivendo em turbulência, está destinado a nunca ter paz. A tranquilidade parece traduzir uma vida estacionária, gerando insatisfação; a rebeldia traz a sensação de movimento, mas nos lança num círculo interminável em que nunca é o bastante e o fim jamais é alcançado.


Por isso muita gente não consegue ser rebelde a vida inteira, ou o tempo todo. Às vezes, mesmoo mais rebelde precisa de um descanso, breve intervalo até que suas moléculas começam novamente a se agitar. A idade também aplaca a rebeldia para permitir uma velhice mais tranquila. Mas quem já foi rebelde nunca deixa de sê-lo completamente. A rebeldia é aquele sorriso no canto dos lábios que ainda podemos ter, mesmo presos pela velhice ao leito de morte.

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